Imagens como esta demonstram a importância que o chocolate tinha para o povo maia (Imagem: Wikimedia Commons) |
Sabe aquele chocolate docinho, gostoso, que derrete na boca? Ou aquele copo de chocolate com leite quentinho, perfeito para os dias frios? Delícia!
Como ando exilada em terras geladas, passo os dias me entupindo de chocolate. Outro dia comi uma barra tão boa que não pude deixar de pensar que a pessoa que teve a ideia de adoçar o chocolate devia ter ganhado o “prêmio Nobel de gastronomia”.
Até cerca de 500 anos atrás, o sabor do chocolate era horrível – uma bebida amarga e muito condimentada, misturada com vários ingredientes mais amargos ainda do que o cacau. Naquela época, o chocolate já gozava de mais de 2 mil anos de popularidade na América Central, entre os povos maias, que plantavam cacau em seus quintais e o usavam para tudo, de moeda a oferenda religiosa.
Mesmo amargo, o chocolate era considerado pelos maias uma bebida dos deuses, oferecida a eles em cerimônias especiais. Como os reis também não queriam ficar para trás, bebiam chocolate em vasilhas feitas especialmente para eles, com desenhos de… reis tomando chocolate!
Como o cacau só podia ser plantado em áreas úmidas e quentes, os maias começaram a vender as sementes aos povos que viviam em regiões mais secas e frias. Assim, o chocolate foi se espalhando por várias regiões das Américas, chegando até ao México.
O fruto se tornou tão valioso que, quando os astecas conquistaram a Mesoamérica – região que inclui a parte superior da América Central e o sul do México –, exigiam que os povos por eles dominados pagassem impostos com sementes de cacau. Quando os espanhóis chegaram às Américas, no início do século 16, procuraram ouro e pedras preciosas na capital asteca, mas o que encontraram? Armazéns e mais armazéns de sementes de cacau.
Talvez os espanhóis tenham ficado meio decepcionados com a descoberta: eles não sabiam o que fazer com uma bebida que até então só se tomava com pimenta – urgh, já imaginou? Mas a verdade é que eles estavam levando para casa um grande tesouro.
E foi assim que alguém na Espanha teve a brilhante ideia de substituir a pimenta pelo açúcar, que, na época, começava a ser produzido em grande quantidade. O gosto ficou tão bom, mas tão bom, que por mais de cem anos os espanhóis guardaram segredo sobre a descoberta. Até que tiveram ideia melhor: começaram a vender, por preços altíssimos, chocolate doce no resto da Europa.
De lá para cá, nem preciso dizer que a moda pegou, não é? Chocolate passou a ser usado como bebida, como comida, como remédio. Há até quem diga que chocolate vicia. Eu não acredito. Mas, falando nisso, cadê aquele chocolate que estava aqui agorinha mesmo? Era só a terceira barra do dia
Keila Grinberg, Departamento de História, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
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